quinta-feira, 5 de junho de 2008

Do Jornalismo Que Protege A Sociedade

O Fantástico e seu jornalismo louvável atacam outra vez, semana retrasada com uma matéria tão... tão imbecil que dá pena de criticá-la diretamente. Irei me ater a desconstruir tudo que foi mostrado, com o meu cinismo e ironia habituais.


O argumento principal e chamada da matéria é: "Os Games Proibidos Continuam Disponíveis". E não é que os "jornalistas", logo na primeira imagem de externa da matéria, foram à Uruguaiana?

Pois é, resolveram mostrar o "crime" que é estar vendendo os jogos proibidos na Uruguaiana. PIRATAS. Piratíssimos. Daqueles que ficam em saquinhos plásticos no meio da rua. Eles só podem estar de brincadeira. Será que alguém explicou para eles que TUDO que estava sendo vendido ali estava fora da lei?

Oh, well.

Nos limitemos agora a transcrever os comentários sobre os jogos Counter-Strike e Bully.

Sobre Counter-Strike: "[Dialogando com um pirateiro da Uruguaiana, que disse que a violência em Counter-Strike é "de tiro, normal"] Normal? Vence quem matar mais, e em uma adaptação nacional (pirata), ganham os cenários de favela no rio e das ruas de São Paulo"

Enquanto isso, rolavam ao fundo imagens do mapa cs_rio, que não faz parte do alvo da proibição: o pacote comercial de Counter-Strike ("pirata", como disseram os repórteres). Além do mais, um outro mod aumentava a quantidade de sangue do jogo para níveis acima dos originais.

Sobre Bully: "em outro jogo, ganha pontos quem bater mais e humilhar os colegas".

Realmente dá para ver que os jornalistas globais estão altamente informados sobre o objeto de sua reportagem. Uma pesquisa na Wikipedia já colocaria essa demência abaixo.

Continuando, temos o depoimento de Fernando de Almeida Martins, que não é psicólogo, sociólogo, nem muito menos de alguma fundação de proteção à criança e ao adolescente. É um procurador da república, famoso por investir seu tempo probindo "RPG do Demônio", em 2001, e radares nas rodovias, para poder dirigir acima do limite e velocidade. Segue um pouquinho de sua sabedoria:

"Os técnicos nos confirmaram que o jogo, principalmente para a criança e para o adolescente, traz uma série de problemas de deturpação psicológica para o jogador. Eventualmente, em alguns casos, pode levar até ao cometimento [credo] de crimes, assassinatos."

Impressionante o grau de embasamento do procurador, que nunca incluiu nenhum tipo de estudo ou depoimento de um profissional qualificado ao proferir seus impropérios. Gostaria de saber qual tipo de "técnicos" têm autoridade para dizer uma barbaridade como essa.


Agora, o grau de imbecilidade da matéria atinge níveis preocupantes ao ouvirmos "o lado dos games" escolhido pelos jornalistas. Primeiro, um advogado especialista em direitos autorais (!), Antônio Cabral, disse estar fazendo uma pesquisa sobre os games em lan houses, e chegou a essa espetacular conclusão:

"Acho engraçado criticarem esses jogos como causadores de violência, quando
na verdade é o contrário (..) A violência existe muito anterior (sic) a essas lan houses e tudo mais, e na verdade esses jogos têm muito interesse (sic) porque realmente retratam a vida daquelas pessoas".

Um gênio, esse advogado. Chegou à conclusão de que a violência é anterior às lan houses. Só me peguei imaginando: como é que os jogos mais populares nas lan houses (atualmente Ragnarok, Gunbound e Priston Tale, ao menos aqui no Rio) retratam a vida dessas pessoas? Não me lembro de ter subido uma favela e visto os moradores cavalgando passarinhos amarelos, vestindo armaduras de cavaleiros, ou mesmo jogando bolas coloridas uns nos outros enquanto usam emoticons bonitinhos.

Depois dessa, vemos as pessoas escolhidas pela reportagem para "defender" os games: dois professores de informática (Sílvio Meira, da Federal de Pernambuco, e Bruno Feijó, da UERJ), que apesar de não terem falado nenhuma besteira, estão longe de ser psicólogos ou coisa que o valha. E, para completar, um grupo gigante de moleques de 19 anos de idade que fazem curso de design de games, e um pai de família que é - adivinhem só - "técnico em informática". Quanta proficiência.

Pelo menos falaram o óbvio, e falaram bem: proibir não é a solução. A classificação indicativa tem funcionado em todos os países onde os governantes são alfabetizados. O pessoal desdentado daqui deveria tentar copiar. E não precisou de nenhum psicólogo para dizer: games são games. Realidade é realidade. O problema é único e exclusivo dos pais, que, quando não sabem fazer o seu trabalho, tornam tanto games quanto filmes, quadrinhos, livros e desenhos animados um perigo para a formação de seus filhos.



E, Zeca Camargo? Eu estou vendo seus peitinhos. Uma dica? Wear black and wear layers.

4 comentários:

Anônimo disse...

Seu blog tá bem legal, até me deu vontade de voltar a postar no webgus.

E o farei!
E tenho dito!
E fica feito!
E plic plac!

Anônimo disse...

é um salgadinho lá do Rio Grande do Sul

Carol de Assis disse...

É por essas e (muitas) outras que eu amo meu gamerguy. ;)

[Mas zoar o peitinho do Zeca, Marcos? Not cool.]

Mark Venturelli disse...

Zooei o peitinho do Zeca porque estava no contexto =P

Tinha acabado de ver aquele vídeo no webTRASH do gus ;)